LIDERANÇA, AUTORIDADE, SUBMISSÃO E OBEDIÊNCIA
Pr. JACIR AILTON DA SILVEIRA, membro do CFP –
Conselho Federal de Pastores desde 07/2010, sob o nº. C-1280
Compreendendo para agir melhor.
A civilização humana é regida por princípios que
a tornam viável. Um deles é o que diz respeito à autoridade. Cada pessoa tem
seu próprio raciocínio, sua própria vontade. Cada um de nós tem sua própria
visão da vida e das circunstâncias e vai, assim, tomando suas próprias decisões
(Jz.21.25 – “Naqueles dias não havia rei
em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos”). Entretanto, quando
vivemos em grupo, torna-se necessária uma direção comum. Se cada integrante
agir de modo independente, o grupo deixará de existir. Considerando que os
agrupamentos humanos existem para que objetivos comuns sejam alcançados, então,
em princípio, não convém dispersá-los. Portanto, para que os grupos existam e
sejam eficientes, torna-se necessária a figura do líder, ou líderes, com
hierarquia definida. O corpo precisa da cabeça para ter direção. Um animal com
mais de uma cabeça seria um monstro, como a besta do Apocalipse (13.1 – “Então vi subir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças, e
sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia”). Então, é
necessário que haja uma liderança claramente identificada.
Na época dos juízes, o povo de Israel vivia
caindo sob o jugo dos inimigos. Rejeitavam a autoridade divina e não havia
autoridade humana estabelecida. Não havia rei em Israel (Jz.21.25). Cada juiz
se levantava para exercer um ministério de pequena duração. Por outro lado,
quando os reis foram estabelecidos, a nação judaica conheceu sua época de maior
prosperidade em toda a história, principalmente no reinado de Salomão. A partir
daí os reis começaram a se corromper, distanciando-se do padrão deixado por
Davi. Então todo o povo também foi se perdendo até que foram para o cativeiro.
A melhor parte da história de Israel corresponde
ao período em que havia uma liderança estabelecida por Deus e que dirigia o
povo de acordo com a vontade divina. Todo grupo precisa de uma liderança. Se ela não existir, cada um fará o
que bem lhe parecer, até que o grupo se desintegre. Por outro lado, se a
liderança existe mas não é obedecida, é como se não existisse. Os resultados
serão, da mesma forma, fracasso e desintegração do grupo.
Havendo liderança, estarão presentes os
conceitos de autoridade, submissão e obediência. Embora já tenhamos consciência
sobre o assunto, precisamos compreendê-lo com mais profundidade. Quando
compreendemos, agimos com base em propósitos conscientes e de modo mais
eficiente, deixando de viver apenas reagindo de maneira instintiva.
Termos como “submissão”
e “obediência” podem produzir
alguma resistência interior. De onde vem esse sombrio sentido que muitas vezes
envolve a noção de submissão? Existem marcas do passado, coletivo e até
individual, que causam esse pensamento. Quando olhamos para trás, nos lembramos
do autoritarismo representado pela escravidão, experiência comum a tantos povos
em tantas épocas, e também nos assustam as ditaduras governamentais. A
experiência que se teve, ou que não se teve com os pais, é um dos fatores mais
decisivos na noção que cada pessoa tem sobre a relação de autoridade e
submissão. Por isso, é tão importante que pais e filhos sejam instruídos para
que tenham um relacionamento sadio. Um filho que se rebela contra os pais, terá
dificuldades para se submeter a qualquer outra autoridade durante toda a sua
vida. Entretanto, os próprios pais podem ter sido responsáveis por esse dano,
não tendo exercido corretamente sua autoridade.
Liderança – uma questão de organização – Muitas vezes a
relação autoridade-submissão é confundida com um confronto entre poder e
impotência, força e fraqueza. Embora esses conceitos estejam frequentemente
relacionados, não devem necessariamente estar. A liderança existe para que o
grupo tenha direção, para que os recursos humanos e materiais possam ser
corretamente direcionados visando o objetivo comum. Não significa que o líder
seja maior ou mais importante que os seus liderados. Portanto, o líder não
deverá se sentir superior nem o liderado inferior. Suas posições são
temporárias e necessárias para o funcionamento da organização. Apenas isso.
Todos são importantes. O líder precisa do grupo e vice-versa. Muitas vezes, a
própria capacidade do líder se transforma em vaidade. Então, está pronto o
cenário da sua ruína, e normalmente o grupo é arruinado com ele.
O que é autoridade? É o legítimo poder
de comando ou de ação. O líder é aquela pessoa que reúne as condições
necessárias para conduzir o grupo ao objetivo comum. Do passado ele precisa
trazer conhecimento, experiência e, como resultado, habilidade.
Em relação ao presente, precisa ter ampla e clara percepção. Quanto ao
futuro, o líder precisa ter visão. Estamos falando de conceitos ideais.
Na prática, destaca-se a pessoa que consegue reunir a melhor combinação
possível desses elementos.
A percepção faz com que o líder acolha idéias
dos seus subordinados. Afinal, o liderado está ali para contribuir. O líder
será capaz de CAPTAR o que há de melhor em todos os membros do grupo e DEFINIR
o rumo da equipe. Algumas vezes ele RECUSARÁ sugestões e DECIDIRÁ
o que será feito, mas, se o líder é SÁBIO, CAPAZ E HABILIDOSO,
sua decisão obterá reconhecimento, respeito e apoio, sem agressões nem traumas,
uma vez que o grupo reconhece que o OBJETIVO está sendo buscado.
O conhecimento que o líder possui é fundamental
para o desempenho do seu papel. Geralmente, o pastor conduz o rebanho por um
caminho conhecido. Ele mesmo já passou por ali antes. Em outros casos, o
caminho não é conhecido mas o pastor já conhece tantos caminhos, que pela
simples observação já sabe dizer se aquele lugar é seguro ou não. O líder
precisa dar exemplo (Hb.13.7 – “Lembrai-vos dos vossos
guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o êxito da sua
carreira, imitai-lhes a fé”), tomar a iniciativa, sendo o primeiro a praticar o que exige. Precisa
cuidar do grupo, buscando o bem e o objetivo coletivo. Assim, será obedecido
com alegria.
Tipos de autoridade e liderança
Natural – ocorre a partir do notório conhecimento ou habilidade em determinada
área ou assunto.
Eleita – é a liderança escolhida pelos liderados em razão do reconhecimento de
suas características naturais.
Delegada – é a autoridade transferida hierarquicamente. Seu exercício se
estabelece por indicação superior.
Imposta – é a autoridade exercida por meio da força. A imposição não é o melhor
caminho.
Algumas vezes isso significará a existência de
uma falsa autoridade, ou ocorrerá como resposta à resistência à verdadeira
autoridade. O uso da força será legítimo em alguns contextos, como é o caso da
força policial e judicial (Rm.13.4 – “porquanto ela é ministro de
Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada;
porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal”).
Na família, por exemplo, os pais podem impor aos
filhos determinadas ações necessárias ou disciplina (Pv. 13.24 – “Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu
tempo o castiga”; 22.15 – “A estultícia está ligada ao
coração do menino; mas a vara da correção a afugentará dele”; 23.13-14 – “Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do Seol. Filho meu, se
o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, ó, meu próprio”; 29.15 – “A vara e a repreensão dão sabedoria; mas a criança entregue a si mesma
envergonha a sua mãe”).
Contudo, a força precisa estar limitada aos
termos da lei e do benefício maior que se deseja (Pv.19.18 – “Corrige a teu filho enquanto há esperança; mas não te incites a
destruí-lo”). Em alguns contextos, não existe lugar para o uso da força (Zc.4.6 – “Ele me respondeu, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel,
dizendo: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos
exércitos”).
Na administração da igreja, por exemplo, nada se fará por meio da força e da
violência, mas voluntariamente, por amor, e pela ação do Espírito Santo.
Os conceitos sobre tipos de autoridade podem
aparecer em conjunto. Quando alguém se destaca como líder natural e é eleito
pelo grupo, isso se torna bastante agradável e produtivo. Se a autoridade for
delegada a uma pessoa naturalmente capaz, então o resultado também poderá ser
positivo. Muitas vezes a autoridade é transmitida por hereditariedade. Isso
ocorre principalmente nos regimes monárquicos. Se o herdeiro do trono é uma
pessoa capaz, então, sua autoridade é natural e poderá ser muito bem sucedida.
Contudo, algumas vezes a autoridade é herdada sem a respectiva capacidade. O
resultado é a imposição, a ditadura, a insatisfação geral e o fracasso. Nos
livros dos Reis de Israel e Judá encontramos vários relatos que podem ilustrar
tais situações.
Quando pensamos no contexto eclesiástico da
questão, devemos nos lembrar de que, além das capacidades naturais, Deus nos dá
capacidades espirituais, dons e ministérios que vão muito além do que
poderíamos fazer por nós mesmos (II Cor.3.5 – “não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós
mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus”). O líder espiritual deve ter o conhecimento e
os dons necessários para o exercício do seu ministério. Como alguém pode ser um
pastor sem conhecer as Sagradas Escrituras?
A origem da autoridade legítima está em Deus
(Rm.13.1 – “Toda alma esteja sujeita às
autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as
que existem foram ordenadas por Deus”). Tal afirmação tem fundamento bíblico, mas seu entendimento na prática
nem sempre é fácil. Quando vemos um líder bom, logo reconhecemos que sua
autoridade vem de Deus. Quando vemos um líder mau, temos a tendência de
questionar sua autenticidade. Afinal, existem líderes que governam com base em
falsas doutrinas e até em nome do Diabo, como é o caso dos líderes satanistas.
Nesses casos, não existe autoridade legítima. Contudo, Deus permite que tais
líderes subsistam, por motivos que fogem ao nosso conhecimento. Alguns deles
são, como o próprio Satanás, instrumentos da ira e do juízo divino.
Mesmo que uma autoridade seja legítima, existem
diferentes modos de exercê-la. O líder pode ser duro, áspero, cruel, ou pode, e
deve ser, amável e respeitoso (Pv.29.21 – “Aquele que cria
delicadamente o seu servo desde a meninice, no fim tê-lo-á por herdeiro”). Pelo menos, no
contexto eclesiástico, é o que se espera do líder: um coração de bom pastor e
bom pai. O autoritarismo ocorre quando não há respeito aos subordinados nem aos
limites da autoridade. O líder não deve usar sua autoridade como pretexto para
ser cruel, mal ou grosseiro.
O líder não está autorizado a humilhar
gratuitamente seus subordinados, embora a legítima disciplina possa ser,
inevitavelmente, humilhante. Contudo, até nesse momento, o líder precisa ser
equilibrado para não submeter o subordinado infrator a um vexame desnecessário.
A dignidade humana deve sempre ser levada em consideração. Talvez seja melhor
morrer dignamente do que viver humilhado. A bíblia diz: “humilhai-vos perante o Senhor e ele vos exaltará” (Tg.4.10). Cada
um deve humilhar a si mesmo na medida necessária, se for necessário. A bíblia
nunca disse: “humilhai-vos uns aos outros”.
Pode haver situações em que o líder precisará
agir com rigor, mas estes serão casos excepcionais. O rigor deve ser a exceção
e não a regra. Talvez nas instituições militares a austeridade seja sempre
necessária, mas não vejo dessa forma o convívio na igreja.
Limites da autoridade – O único que possui
autoridade suprema é Deus. No que diz respeito ao contexto humano, a autoridade
está pulverizada em áreas abstratas e concretas: são as “jurisdições”. A tentativa de concentrar autoridade absoluta nas
mãos de um homem, só pode produzir equívocos, arbitrariedades e males
abundantes. Para ter todo poder e toda autoridade, o líder precisaria ter todo
o conhecimento e estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Como sabemos, o
único onisciente e onipresente é Deus. Por isso, só ele é onipotente. Os três
conceitos são tão intrínsecos entre si que não podemos lhes atribuir uma ordem
rigorosa.
A desconsideração dos limites da autoridade traz
como resultado o autoritarismo. A verdadeira autoridade deverá:
- Estar sujeita a uma
autoridade superior. Isso só não acontece nos governos autocráticos. Em
nosso sistema, a constituição está acima dos poderes da república.
O exemplo mencionado por Paulo é bastante oportuno:
1 – O marido é o cabeça da mulher, mas ele mesmo tem um cabeça que é
Cristo, e Cristo tem um cabeça, que é Deus (I Cor.11.3).
2 – No caso dos líderes da igreja, deve haver uma hierarquia e sobre
todos eles está Cristo, pois ele é o cabeça da igreja. Se um líder rejeita as
autoridades superiores a ele, então sua própria autoridade será questionada,
pois quebrou a hierarquia (Col. 2.18-19).
3 – Assim, se um líder estabelece decisões contrárias ao que conhecemos
da vontade de Deus, então tais ordens deverão ser desobedecidas. Afirmamos isso
com fundamento bíblico, porque “mais importa obedecer a Deus do que aos homens”
(At.4.19).
4 – As parteiras egípcias desobedeceram ao rei Faraó, quando este
ordenou que os meninos hebreus fossem assassinados (Êx.1.17).
5 – Raabe desobedeceu ao rei de Jericó quando este lhe ordenou que
entregasse os espias israelitas (Js.2.3-4).
6 – Os magos desobedeceram ao rei Herodes, quando este lhes pediu que
fosse informado sobre a localização do menino Jesus (Mt.2.8,12).
7 – Os apóstolos desobedeceram às autoridades públicas, quando estas lhes
proibiram de pregar o evangelho (At.4.19).
Contudo, este argumento não pode ser usado como desculpa para justificar
a rebeldia, a preguiça e outros motivos escusos que venham produzir a
desobediência.
- A verdadeira autoridade deve
limitar suas exigências. Vemos em Atos 15, que os apóstolos decidiram
exigir dos gentios apenas o que era necessário, imprescindível. Portanto, o que
era necessário para os israelitas no deserto, e por isso foi exigido por Deus,
já não é necessário para nós hoje. Sabemos que em vários setores, o nível de
exigências pode variar, pois a necessidade também varia. O líder precisa estar
atento aos limites de seus liderados, procurando manter suas decisões e ordens
dentro das possibilidades de execução. Os prazos de cumprimento e a organização
geral das tarefas serão bastante favoráveis para que as exigências sejam
cumpridas de modo suave e agradável. Numa guerra isso não é possível, mas nem
sempre estamos em guerra.
- A verdadeira autoridade
decide com base nos objetivos do grupo – O líder não deve manipular os
liderados na direção do seu bel prazer. (Col.2.18-19 – “Ninguém atue como árbitro contra vós, afetando humildade ou culto aos
anjos, firmando-se em coisas que tenha visto, inchado vãmente pelo seu
entendimento carnal, e não retendo a Cabeça, da qual todo o corpo, provido e
organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo com o aumento concedido por
Deus”). Buscando
seus interesses egoístas. Por exemplo, a autoridade de trânsito comanda o fluxo
de veículos de acordo com a legislação e a necessidade e não para atender suas
preferências pessoais.
O líder cristão conduz a igreja ou grupo de
irmãos de acordo com o padrão bíblico e não com o objetivo de construir seu
próprio patrimônio ou exaltar seu próprio nome. Este e outros parâmetros podem
ajudar a identificar os lobos vestidos de ovelhas, cujo objetivo não é conduzir
o rebanho mas extrair dele o maior benefício pessoal possível. Isso não
significa que o verdadeiro líder não possa ser beneficiado. Certamente o será,
mas junto com o grupo e não em detrimento deste.
Liderança segundo Jesus Cristo – Podemos mencionar
muitos exemplos históricos, inclusive bíblicos, sobre relações de autoridade e
submissão. São episódios diversos, bons ou maus, mas acima de tudo isso está o
conceito revolucionário que Jesus trouxe sobre essa questão: o líder cristão
é um servo. Sob o ponto de vista humano, natural, tal afirmação é
completamente absurda. Portanto, temos diante de nós dois padrões de liderança:
o modelo mundano e o modelo de Cristo. Vejamos as palavras do Mestre sobre o
assunto:
“Jesus, pois, chamou
os seus discípulos para junto de si e lhes disse: Sabeis que os governadores
dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não
será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande,
será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será
vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”. (Mt.20.25-28).
Os discípulos, em seu tempo de imaturidade,
viviam disputando entre si para ver qual deles seria o maior. Esperavam que
Jesus libertasse Israel do domínio romano e que, então, cada um deles pudesse
ter uma posição de autoridade no Reino de Deus. Qual não foi sua surpresa
quando Jesus disse que eles deveriam ser servos! Da mesma forma, todos os
líderes cristãos devem ser servos. Os líderes existem para servir à igreja.
Ministério, de acordo com o Aurélio é “trabalho
ou função de serviço na igreja”. Ministrar é servir. Imbuído desse
pensamento, o líder será humilde. Não terá complexo de superioridade nem
maltratará seus liderados.
Jesus, o Príncipe da paz, o Rei esperado por
Israel, ajoelhou-se e lavou os pés dos discípulos, inclusive os de Judas. Esta
é a atitude que o líder cristão deve ter. Não buscando ser servido, mas servir,
como o próprio Jesus fez.
A importância da obediência – nós, que estamos
debaixo de autoridade, devemos obedecer. Sabendo que nossos líderes estão se
empenhando por exercerem uma liderança sábia e justa, nada nos resta senão a
fiel obediência. E por quê o faremos? Todo grupo tem um objetivo que justifica
sua existência. Se obedecemos, estamos contribuindo para que o objetivo seja
alcançado. Se desobedecemos estamos traindo a nós mesmos e prejudicando todo o
grupo.
O grande problema da história de Israel foi a
desobediência. Aliás, o grande problema da história humana é esse. Adão e Eva
tinham um único mandamento para cumprir e conseguiram desobedecê-lo. E assim
continua até hoje. O povo de Israel foi desobediente ao Senhor. As
consequências foram maldições diversas, inclusive o cativeiro, a perda terra de
Canaã e a dispersão pelo mundo afora.
As palavras “lei”
e “mandamento” parecem pesados.
Contudo, todos os mandamentos de Deus foram estabelecidos para o nosso próprio
bem e para que o objetivo da nossa existência seja atingido em plenitude.
Portanto, devem ser obedecidos. (Não
estamos advogando a favor da lei mosaica, mas da vontade de Deus, de modo
geral). Muitas vezes queremos entender as ordens de Deus. É melhor obedecer
do que ficar tentando compreender.
Se o aluno desobedecer ao professor, estará prejudicando a si mesmo.
E se o paciente desobedecer ao médico? Pode ser fatal.
O soldado precisa obedecer ao capitão para que a tropa possa alcançar a
vitória.
Cada músico da orquestra precisa obedecer ao
comando do maestro para que se consiga harmonia e beleza. Se um deles resolver
tocar sua própria música ou no seu próprio tom, poderá ter uma sensação de
liberdade e independência, mas todo o grupo ficará prejudicado.
O maior exemplo – é o próprio Senhor
Jesus. Em seu ministério terreno, Cristo demonstrou total obediência ao Pai.
Portanto, além de ser o melhor exemplo de líder, ele é o melhor exemplo de
filho e de servo (Hb.5.8 – “ainda que era Filho,
aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu”; Fp.2).
Relações diversas – Existem vários tipos
de relações humanas e em quase todas elas surge a questão da autoridade e
submissão. Algumas vezes essas situações são involuntárias.
Por exemplo, nascemos em uma família e em um
país que não escolhemos. Com isso, podemos estar sujeitos a uma autoridade
involuntariamente. Mesmo assim devemos ser obedientes dentro dos limites da
consciência, da lei, e da vontade de Deus.
Existem porém outros tipos de relação nas quais
entramos por nossa própria vontade. Usando a linguagem bíblica, são jugos.
Podem ser jugos leves (Mt.11.29-30 – “Tomai sobre vós o meu jugo,
e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para
as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve”) ou pesados (II
Cor.6.14 – “Não vos prendais a um jugo
desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a injustiça?
ou que comunhão tem a luz com as trevas?”).
Podemos incluir aqui a entrada em um matrimônio,
em um grupo de louvor ou em uma comunidade qualquer. O que existe de comum em relações tão diferentes? Entramos por
nossa própria vontade. Depois de feito o compromisso, temos a obrigação de
cumprir com os deveres que nos forem designados. Existe opção para entrar ou
não, mas não existe opção para desobedecer, observados os limites já expostos.
Se entramos voluntariamente em um grupo, não
podemos agora agir contra ele. Não podemos desobedecer às determinações do
líder. Certamente, o bom líder não é um ditador. O homem de Deus sempre estará
pronto para ouvir (Tiago 1.19 – “Sabei isto, meus amados
irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se
irar”).
Contudo, a decisão é do líder. Ele tem a prerrogativa de permitir uma decisão
democrática.
Existem assuntos que podem ser levados à
votação, como vemos em exemplos bíblicos, mas tudo deve ser feito mediante a
oração para que a decisão do líder ou do grupo seja a manifestação da vontade
de Deus (At.1.23-26 – “E apresentaram dois: José,
chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias. E orando,
disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra qual destes
dois tens escolhido para tomar o lugar neste ministério e apostolado, do qual
Judas se desviou para ir ao seu próprio lugar. Então deitaram sortes a respeito
deles e caiu a sorte sobre Matias, e por voto comum foi ele contado com os onze
apóstolos”;
6.3-6 – “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios
do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas
nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. O parecer agradou a
todos, e elegeram a Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe,
Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia, e os
apresentaram perante os apóstolos; estes, tendo orado, lhes impuseram as mãos”).
O líder estabelece critérios para a
decisão do grupo, pode apresentar alternativas previamente selecionadas,
e, por fim, vai aprovar ou não a escolha feita. Tudo isso é opcional. O
líder pode também decidir sozinho. Se isso será bom ou mau, cada situação vai
dizer. Os resultados de uma decisão solitária podem produzir prestígio ou até
mesmo causar a queda do líder. Podemos até ajudar a decidir, mas, uma vez que a
decisão foi tomada, não podemos desobedecê-la. Aqueles que fazem as leis também
estão sujeitos a elas, e devem ser os primeiros a cumpri-las.
Algumas situações de jugo permitem sua
dissolução. Não vamos tratar da questão familiar, mas nos concentremos nos
demais grupos dos quais fazemos parte. Entramos neles voluntariamente. Da mesma
forma podemos sair. O que não podemos fazer é desobedecer à liderança estando
dentro do grupo. Portanto, temos opção: obedecemos ou saímos. A saída deve se
dar, sempre que possível, de forma cordial e pacífica, e nunca sem oração para
que a vontade de Deus seja feita.
Atitudes em relação à autoridade
Submissão é diferente de obediência. Submissão é
o compromisso, a postura, atitude interior. Obediência é o cumprimento de uma
ordem específica. Precisamos portanto, ser submissos e obedientes. Uma coisa
não é suficiente sem a outra. Aquele que diz ser submisso, mas nunca cumpre uma
ordem, deverá rever sua posição. Mas existem também aqueles casos de pessoas
que cumprem ordens, mas estão se remoendo por dentro. São obedientes, mas não
são submissas. Isso é mais comum em situações hierárquicas, onde se utiliza o
termo “subordinado”. Querendo ou não, o soldado vai obedecer ao comando. Na
igreja, porém, o que se deseja é que sejamos obedientes e também submissos. A
submissão está no coração, nas intenções. Quem é submisso, obedece até na
ausência do líder (Fp. 2.12 – “De sorte que, meus amados,
do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito
mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor”).
O problema da murmuração
A obediência precisa ser aprendida. Precisamos
crescer na obediência. O primeiro estágio é simplesmente fazer o que foi
ordenado, mas Jesus disse que, se fizermos apenas isso, somos servos inúteis
(Lc.17.10 – “Assim também vós, quando
fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos
somente o que devíamos fazer”). Somos obedientes, mas inúteis. Precisamos ir além. Como? Podemos tomar iniciativas
próprias, podemos fazer mais do que aquilo que foi exigido, mas vejamos um
outro detalhe sutil:
Muitas vezes obedecemos reclamando. Precisamos vencer
esse mal. Um dos maiores problemas de Israel no deserto foi a murmuração.
Viviam reclamando de tudo, reclamando do líder, reclamando de Deus. Observe que
“murmuração” significa “falar baixo”. A murmuração é aquele
tipo de reclamação às ocultas, aquela queixa que não produz nada além de
disseminar um descontentamento geral.
Qual é a causa da
murmuração? A insatisfação. Esta não pode ser simplesmente proibida ou ignorada. É
como a ira, um sentimento espontâneo que podemos controlar, mas não anular. Ela
existe e persiste. O que fazer então?
Precisamos examinar a raiz da nossa insatisfação. Ele provém de um desejo. Tal desejo é legítimo? É egoísta ou de
interesse do grupo?
Nossa insatisfação pode nascer do egoísmo.
Então, nada nos resta senão obedecer e calar. Nada de murmurações. A
insatisfação pode nascer também de um desejo bom, legítimo e importante. Então,
devemos transformar nossa insatisfação numa contribuição para o grupo. Devemos
levar ao conhecimento do líder a nossa opinião afim de que todos possam ser
beneficiados. Vamos direcionar nossa energia para que o grupo possa melhorar
seus planos e seu trabalho. Um dos motivos da insatisfação pode até ser um erro
do líder (Ec.10.5 – “Há um mal que vi debaixo do
sol, semelhante a um erro que procede do governador”).
A murmuração é pecado e pode trazer muitas consequências
ruins. Se o pecado aconteceu, podemos reconhecer e pedir perdão, ou guardá-lo e
sofrer as consequências. Mesmo sendo confessado e perdoado o pecado pode trazer
consequências. Por isso ele é tão maligno (Pv.18.19 – “um irmão ajudado pelo irmão é como uma cidade fortificada; é forte como
os ferrolhos dum castelo”).
Algumas vezes ficamos insatisfeitos por motivos
particulares, mas precisamos lembrar que tudo é feito visando o objetivo do
grupo. Podemos conversar com o líder com todo respeito, expondo nosso parecer,
mas a decisão é do líder. Contudo, lembre-se de que o grupo não gira em torno
de 1 (um) indivíduo. Nem todas as nossas preferências serão atendidas em todo
tempo. Porém, o nosso pedido pode ser de interesse geral e até favorável ao
alcance do objetivo comum.
Quando um interesse é levado ao conhecimento do
líder, ele pode ouvir e aplicar, ou não aplicar por não ser algo bom, ou não
aplicar por não existirem recursos. Os liderados precisam também compreender as
limitações do líder e do próprio grupo. Os israelitas no deserto estavam
exigindo de Moisés muito mais do que aquilo que ele poderia oferecer. Ao invés
de esperarem a chegada a Canaã, já queriam desfrutar de tudo no meio do
caminho.
Deus é líder perfeito e infalível, mas ainda
assim ele nos ouve e às vezes muda situações (Abraão diante de Sodoma, Moisés
ao pé do monte Sinai, Jesus no Getsêmani). Quanto mais nas relações humanas
deve haver esse diálogo. Nossa posição em relação a Deus nunca vai mudar.
Sempre seremos seus filhos e seus servos, submissos a ele. Nas relações
humanas, entretanto, nossas posições são alternáveis, exceto em algumas
sociedades organizadas em castas. Quem é líder hoje poderá ser liderado amanhã
e vice-versa. Por isso, Paulo disse que devemos nos sujeitar uns aos outros.
Amém!!!
DEUS os abençoe ricamente!!!
Quer convidar o Pr. JACIR para ministrar em sua igreja, em seus eventos, fazer um
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Pr. JACIR AILTON DA SILVEIRA – Teólogo
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MATEUS 10·8
– “Curai
os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios;
de graça recebestes, de graça dai”.